

Última atualização em 22/10/2025 por Especialista em Gestão de Projetos, GPRO
A estrutura organizacional de projetos é um pilar decisivo para o sucesso de qualquer iniciativa, impactando diretamente prazos, custos e a qualidade das entregas. Ela molda a autoridade do gerente de projetos, otimiza a comunicação entre as equipes e garante a alocação eficaz de recursos, transformando a forma como os projetos são conduzidos no dia a dia.
Neste artigo, combinaremos a prática de mercado com as diretrizes mais atuais de instituições como o Project Management Institute (PMI) e o Projects IN Controlled Environments (PRINCE2) versão 7. Nosso objetivo é oferecer um roteiro claro para que gestores e organizações possam decidir a estrutura ideal.
Você descobrirá como comparar opções e sairá com um plano aplicável, afastando a ideia de que existe uma solução única para todos os desafios.
A estrutura organizacional de um projeto refere-se à maneira como as responsabilidades são atribuídas, a autoridade é estabelecida e as decisões são tomadas para garantir o sucesso de uma iniciativa.
Ela é, em essência, o estilo de coordenação, comunicação e gestão que uma equipe adota para otimizar seus recursos, esclarecer papéis e evitar conflitos. Uma estrutura bem definida é capaz de alinhar todos os membros da equipe, minimizando interrupções no fluxo de trabalho e, consequentemente, impulsionando a produtividade.
Essa estrutura delineia quem tem o poder de decisão em cada etapa, como a equipe se comunica para garantir a fluidez da informação, de que forma os recursos circulam entre as necessidades do projeto e como os inevitáveis conflitos são resolvidos.
Tais aspectos, por sua vez, têm impacto direto na velocidade das decisões, no foco que o projeto consegue manter no cliente e na redução de retrabalho e sobrecarga gerencial.
Em um cenário dinâmico, equipes performam de forma comparável em abordagens preditivas, híbridas e ágeis, desde que a estrutura seja adequada ao propósito (“fit-for-purpose”) e as pessoas tenham autonomia e habilidades apropriadas.
A escolha da estrutura organizacional ideal para um projeto nunca é uma decisão única para todos. Pelo contrário, trata-se de um processo situacional que exige uma análise cuidadosa do contexto específico da sua organização e do projeto em questão. Diversos elementos são determinantes ao optar pela estrutura mais adequada. Entre eles, destacam-se:
Para simplificar sua análise, responda às perguntas abaixo. Elas o ajudarão a identificar a estrutura que melhor se alinha ao seu cenário:
As respostas ao checklist orientam para a estrutura mais indicada:
A flexibilização de práticas de entrega e o foco em modelos adequados ao propósito (“fit-for-purpose”) têm se mostrado uma tendência crescente, com um aumento significativo no uso de abordagens híbridas.
Isso reflete a busca por maior adaptabilidade em cenários complexos e a compreensão de que uma estrutura bem escolhida é chave para o sucesso do projeto.

No universo da gestão de projetos, o mercado reconhece amplamente o “modelo 3+3” para as estruturas organizacionais. Ele se baseia em três tipos principais: funcional, projetizada e matricial, sendo esta última subdividida em fraca, equilibrada e forte.
Nesta estrutura, as equipes são organizadas em departamentos funcionais tradicionais, como finanças, marketing ou engenharia. Cada parte do projeto relacionada a uma área é coordenada por seu respectivo gerente funcional.
É ideal para projetos repetitivos, com requisitos estáveis e baixa urgência transversal, onde a previsibilidade é alta e há especialistas escassos que atendem a várias frentes.
A estrutura projetizada forma uma unidade dedicada unicamente ao projeto. Neste modelo, cada projeto tem um gerente de projetos com autoridade total sobre o orçamento, o cronograma e a equipe dedicada.
Perfeita para programas críticos, com prazos agressivos e múltiplos fornecedores, ou para projetos únicos e complexos que exigem dedicação exclusiva.
A estrutura matricial é um modelo híbrido que combina elementos da funcional e da projetizada. Nela, os membros da equipe continuam em departamentos de linha, mas podem trabalhar em projetos paralelos, reportando-se a dois chefes: o gerente funcional e o gerente de projetos. As variantes (fraca, equilibrada ou forte) dependem do poder de decisão do gerente de projetos em relação ao gerente funcional.
Neste modelo, o poder pende para o gerente funcional. O gerente de projetos atua mais como um coordenador ou expedidor, com autoridade limitada. Isso pode resultar em trade-offs (concessões) na prioridade do projeto, pois os membros da equipe podem ter dificuldade em equilibrar as demandas do projeto com suas responsabilidades funcionais.
Nesse tipo de matriz, o poder é compartilhado entre o gerente de projetos e o gerente funcional. Embora proporcione um melhor equilíbrio de recursos e responsabilidades, pode haver um risco de disputa por recursos ou prioridades, exigindo uma governança clara e habilidades de negociação dos gerentes para funcionar bem.
Aqui, o poder pende para o gerente de projetos, que tem maior controle sobre o projeto e a equipe, similar a uma estrutura projetizada, mas com os membros ainda vinculados a seus departamentos funcionais. Oferece maior velocidade de decisão e foco no projeto, porém com um custo de coordenação potencialmente maior devido à dupla subordinação.
A seguir, um quadro para facilitar a compreensão das principais características de cada tipo de estrutura:
| Característica | Funcional | Matricial Fraca | Matricial Equilibrada | Matricial Forte | Projetizada |
|---|---|---|---|---|---|
| Autoridade do GP | Pequena/Nula | Pequena | Média/Balanceada | Grande | Total |
| Alocação de Pessoas | Recursos compartilham tempo com funções | Recursos designados por funcional | Recursos designados por funcional e projeto | Recursos dedicados ao projeto (com vínculo funcional) | Recursos dedicados ao projeto |
| Comunicação | Vertical (hierárquica) | Vertical e alguma horizontal | Horizontal e Vertical | Principalmente horizontal (projeto) e alguma vertical | Horizontal (projeto) |
| Velocidade de Decisão | Lenta | Moderada | Moderada/Potencialmente lenta com conflitos | Rápida | Muito Rápida |
| Custo de Coordenação | Baixo | Moderado | Moderado/Alto | Alto | Alto |
| Riscos Típicos | Falta de foco no projeto, silos, lentidão | Falta de prioridade ao projeto | Conflitos por recursos e autoridade | Dupla subordinação, alto custo | Duplicação de recursos, desmobilização pós-projeto |
| Quando Usar | Projetos repetitivos, requisitos estáveis, especialização técnica | Projetos pequenos, baixo risco | Equilíbrio de prioridades, colaboração interdepartamental | Projetos complexos, necessita foco GP, recursos compartilhados | Projetos críticos, prazos agressivos, foco exclusivo |
Um dos exemplos mais influentes de estrutura organizacional que inspira a autonomia de equipes vem do Spotify model. Nele, as empresas de software e plataformas utilizam equipes multidisciplinares e autônomas, conhecidas como “squads” (esquadrões), com foco total no produto.
Esses squads se organizam em “tribos” (tribes) para grupos de squads que trabalham em áreas relacionadas, “chapters” (capítulos) para compartilhar conhecimento técnico e “guilds” (grêmios) para comunidades de interesse.
Este modelo, embora não seja um framework universal, serve como uma referência para o desenvolvimento de software e cases que inspiram estruturas pró-autonomia, úteis quando há múltiplos times e mercados dinâmicos. Ele reflete metodologias ágeis como Scrum e Lean, priorizando a confiança e a autonomia das equipes.
Uma estrutura organizacional de projetos, por mais bem desenhada que seja, corre o risco de se tornar uma fonte de ruído e ineficiência se não for complementada por uma governança sólida. A governança, muitas vezes materializada pelo Escritório de Projetos (PMO) e pelas metodologias como PRINCE2, é o que realmente muda as coisas em termos de autoridade e tomada de decisão.
O PMO atua como uma estrutura de gestão que padroniza a governança de projetos, facilita o compartilhamento de recursos e metodologias e alinha os projetos à estratégia da empresa. Existem três tipos principais de PMO, cada um com um nível diferente de influência na autoridade do gerente de projetos:
O tipo de PMO implementado impacta diretamente o poder e o fluxo de decisão, especialmente em estruturas matriciais, onde o equilíbrio de autoridade é fundamental.
Em uma matriz forte, por exemplo, um PMO diretivo pode centralizar ainda mais o poder de decisão, enquanto em uma matriz fraca, um PMO de suporte pode oferecer as ferramentas necessárias para que o gerente de projetos ganhe mais influência.
É fundamental entender que o organograma de projeto difere significativamente do organograma corporativo tradicional. Enquanto este último representa a estrutura hierárquica permanente da empresa, o organograma de projeto é uma representação visual da equipe temporária do projeto, focando em papéis, responsabilidades e linhas de comunicação para uma iniciativa específica.
A criação de um organograma de projeto claro é um dos primeiros passos para o sucesso. Siga este guia para montar o seu:
Os handoffs (passagens de bastão) são pontos de transição de trabalho entre pessoas ou equipes, e podem ser fontes de gargalos e retrabalho se não forem bem gerenciados. Identificar onde eles ocorrem é crucial:
A aplicação da estrutura organizacional de projetos varia amplamente de acordo com o contexto e os objetivos. Analisar casos reais nos ajuda a compreender a lógica por trás de cada escolha.
No universo do produto digital, como visto em empresas que se inspiram no modelo Spotify, as estruturas buscam flexibilidade e autonomia. A organização em squads (esquadrões) e tribes (tribos) favorece a velocidade na entrega e o aprendizado contínuo, especialmente quando há um backlog (lista de tarefas) vivo e mercados dinâmicos. Equipes autônomas podem reagir rapidamente a feedbacks (retornos) dos usuários e mudanças de mercado, otimizando o processo de desenvolvimento de software de forma ágil.
Para programas de grande escala e alta complexidade, como a construção de grandes infraestruturas ou a integração de sistemas complexos, a estrutura projetizada é frequentemente a escolha ideal. Um grupo brasileiro de energia, por exemplo, adotou uma estrutura projetizada para a construção de linhas de transmissão em Santa Catarina.
Essa escolha permitiu cumprir prazos apertados, melhorar a comunicação interna e manter foco exclusivo no projeto, resultando no alcance de metas rigorosas. Nesse cenário, o foco do gerente de projetos é total, e as decisões são aceleradas pela ausência de dupla subordinação.
Em contextos onde a especialização técnica é o ativo mais valioso e a previsibilidade é alta, a estrutura funcional pode ser a mais eficiente. Isso ocorre, por exemplo, em departamentos de pesquisa e desenvolvimento (P&D – Research and Development) de indústrias, onde engenheiros altamente especializados atendem a diversos projetos menores.
A estrutura funcional garante a continuidade do conhecimento técnico e aprimora a expertise (especialidade) na área, embora os projetos possam ter prioridade secundária.
Quando um projeto exige colaboração intensa entre diferentes departamentos da empresa, a estrutura matricial, especialmente a equilibrada ou forte, pode ser a solução. Empresas como a General Electric (GE) são frequentemente citadas como exemplos de uso de estrutura matricial para otimizar recursos técnicos (engenheiros, designers, etc.).
Esse modelo melhora a orquestração entre as áreas, desde que o PMO e os gates (portas) de decisão estejam bem definidos, evitando conflitos de prioridade e de recursos.
O cenário da gestão de projetos está em constante evolução, impulsionado por novas tecnologias, mudanças na forma de trabalho e uma demanda crescente por agilidade e eficiência. As estruturas organizacionais não ficam alheias a essas transformações, adaptando-se para enfrentar os desafios contemporâneos.
A tendência de abandonar modelos rígidos é cada vez mais clara. A frase “nem ágil, nem preditivo – a tendência é o híbrido” resume bem o momento atual.
Organizações estão adotando abordagens híbridas e fit-for-purpose (adequadas ao propósito), combinando práticas preditivas e ágeis conforme a necessidade do projeto. Essa flexibilidade permite que as estruturas acomodem a autonomia local sem perder a governança central, tornando-as mais resilientes em ambientes voláteis, incertos, complexos e ambíguos (VUCA – Volatile, Uncertain, Complex, Ambiguous).
O reconhecimento do papel das habilidades interpessoais e da importância dos dados tem crescido exponencialmente.
Como indicado pelo PRINCE2 7, há um foco maior nas pessoas, na flexibilidade e na gestão de dados e digital. Isso significa que as estruturas precisam ser redesenhadas para priorizar o desenvolvimento de competências de liderança e comunicação, e para que os fluxos de informação digital e as métricas se tornem centrais na tomada de decisão.
A incorporação de Inteligência Artificial e automação nas ferramentas de gestão está revolucionando o cenário. Ferramentas de Project Portfolio Management (Gerenciamento de Portfólio de Projetos) com IA auxiliam na alocação de recursos, na previsão de atrasos e na otimização de portfólios.
Isso não altera diretamente a estrutura em si, mas exige que ela seja adaptável e integre novas tecnologias. A IA permite um planejamento de capacidade mais preciso, uma priorização de portfólio mais eficaz e uma previsão de riscos aprimorada, exigindo estruturas com clareza de propriedade dos dados para aproveitar todo o potencial dessas ferramentas.
O trabalho remoto e híbrido consolidou-se, impactando diretamente a organização dos projetos. As equipes estão cada vez mais distribuídas geograficamente, exigindo o uso intensivo de ferramentas colaborativas e estruturas capazes de lidar com comunicação assíncrona.
Isso significa que as estruturas devem reforçar a importância de comunicação clara e papéis bem definidos para manter a cadência do projeto, mesmo quando parte da equipe não está fisicamente no mesmo local. A autoridade, nesse cenário, também precisa ser reavaliada para garantir a agilidade e a eficácia das decisões.

Escolher a estrutura organizacional de projetos ideal é apenas o primeiro passo; transformá-la em um plano de transição eficaz é o que garantirá o sucesso. Este guia oferece um caminho prático para implementar sua nova estrutura, passando da decisão teórica ao “go live” (colocar em operação).
Para minimizar riscos e garantir uma transição suave, considere rodar um piloto controlado. Escolha 1 a 2 iniciativas de menor impacto ou complexidade para testar a nova estrutura.
Durante essa fase, observe e ajuste continuamente a Tabela RACI (Responsável, Autoridade, Consultado, Informado), os gates (portas) de decisão e a cadência de reuniões.
Esse tailoring (ajuste) permite que a organização se adapte gradualmente, identificando e corrigindo pontos de atrito antes de uma implementação em larga escala.
Definir indicadores claros é crucial para avaliar a eficácia da nova estrutura. As métricas devem ir além dos resultados do projeto e focar na performance da organização em relação à estrutura adotada:
Após a implementação ou o piloto, realize uma retrospectiva com o PMO e a alta gestão em 90 dias. Use um roteiro estruturado para avaliar o que funcionou, o que precisa ser ajustado e se a estrutura está entregando os benefícios esperados.
Com base nessa avaliação, decida se é o momento de avançar para uma matriz mais forte, expandir a adoção ou, se necessário, rever o modelo e voltar um passo para ajustes mais profundos. A melhoria contínua é a chave para o sucesso a longo prazo.
A FIA Business School, com sua tradição de 45 anos e a credibilidade da vinculação FIA-USP, oferece uma jornada educacional completa para capacitar profissionais e organizações a navegarem e implementarem as estruturas organizacionais de projetos mais eficazes.
Nossos programas são projetados para acelerar sua maturidade em gestão e garantir resultados.
A escolha da estrutura organizacional de projetos é um processo estratégico que vai muito além da simples definição de hierarquias. Como vimos, a compreensão do “modelo 3+3” (funcional, projetizada e matricial em suas três variações) é tão importante quanto a implementação de uma governança robusta, com um PMO bem definido.
O sucesso de um projeto está intrinsecamente ligado à capacidade de a organização adaptar sua estrutura ao contexto, às tendências e, sobretudo, às pessoas.
A FIA Business School Gestão de Projetos está pronta para ser sua parceira nessa jornada de transformação. Entre em contato com a nossa equipe de especialistas em gestão de projetos para orientação na definição e implantação da estrutura ideal para sua equipe.