Como os 12 princípios do Manifesto Ágil se adaptam a projetos híbridos

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Como os 12 princípios do Manifesto Ágil se adaptam a projetos híbridos

Última atualização em 19/12/2025 por Especialista em Gestão de Projetos, GPRO

Introdução

As abordagens híbridas não são apenas uma tendência: elas representam o futuro inevitável da gestão de projetos. O verdadeiro diferencial competitivo surge quando conseguimos integrar a previsibilidade, a governança e o rigor do planejamento das metodologias tradicionais com a agilidade, a adaptação e o aprendizado contínuo das práticas ágeis.

Para alcançar esse equilíbrio, é indispensável dominar as diferentes metodologias. As práticas tradicionais já fazem parte da cultura organizacional, mas as ágeis, embora em alta, muitas vezes são implementadas de forma superficial. Sem a internalização dos 12 princípios do Manifesto Ágil, o resultado é o chamado “teatro ágil” — uma encenação que não entrega valor real.

Neste artigo, vamos explorar o Manifesto Ágil e seus princípios, como identificar o “teatro ágil” e demonstrar como combinar os modelos ágeis e tradicionais para construir uma estratégia híbrida robusta. O objetivo é claro: oferecer às organizações um caminho prático e sustentável para elevar a maturidade em gestão de projetos e maximizar resultados.

O Manifesto Ágil e seus Princípios

As práticas preditivas de gerenciamento de projetos eram amplamente adotas em projetos de software, porém, essas abordagens não atendiam completamente às necessidades. Em 2001, na cidade de Snowbird, Utah (USA), 17 desenvolvedores de software se reuniram para discutir suas metodologias e chegaram à conclusão de que precisavam de um modelo mais leve e flexível.

Homem realizando projetos

Assim, foi estabelecido o Manifesto Ágil, um conjunto de quatro valores e doze princípios, que fundamentam uma abordagem mais colaborativa e adaptativa, com ênfase na entrega contínua e na adaptação às mudanças.

Antes de considerar adotar uma prática ágil, é fundamental compreender os doze princípios do Manifesto Ágil, que refletem o espírito agilista. São eles:

  1. A maior prioridade é satisfazer o cliente por meio da entrega antecipada e contínua de software valioso.
  2. Mudanças nos requisitos são aceitas, mesmo em fases avançadas do desenvolvimento.
  3. Entregar software funcionando com frequência, com preferência pelo menor prazo.
  4. Pessoas de negócios e desenvolvedores devem trabalhar juntos diariamente ao longo do projeto.
  5. Construir projetos em torno de indivíduos motivados, oferecendo ambiente e suporte necessários e confiar que eles concluirão o trabalho.
  6. O método mais eficiente e eficaz de transmitir informações é a conversa presencial.
  7. Software funcionando é a principal medida de progresso.
  8. Processos ágeis promovem o desenvolvimento sustentável. Os patrocinadores, desenvolvedores e usuários devem ser capazes de manter um ritmo constante.
  9. Atenção contínua à excelência técnica e ao bom design aprimora a agilidade.
  10. Simplicidade é essencial.
  11. As melhores arquiteturas, requisitos e designs emergem de equipes auto-organizadas.
  12. Em intervalos regulares, a equipe reflete sobre como se tornar mais eficaz e ajustas seu comportamento de acordo.

A capacidade de entregar resultados em um ambiente de constante mudanças está se tornado uma habilidade cada vez mais indispensável. O mundo é VUCA (Volatility, Uncertainty, Complexity and Ambiguity, em inglês), modelos tradicionais focados no “como” já não atendem todas as necessidades. É importante incorporar a “leveza” do ágil para se adaptar a essa nova realidade.

O “Teatro Ágil”: Framework Ágil sem Os Princípios

Implementar uma abordagem ágil e suas cerimônias sem integrar os princípios da metodologia e sem modificar a mentalidade e as formas de trabalho resulta, inevitavelmente, em falhas. Isso se torna evidente por meio de sintomas do que se denomina “teatro ágil” (Agile Theater):

  • Reuniões de Checklist: Nas reuniões diárias (como daily scrum) só as entregas são validadas, não há discussões sobre como resolver potenciais “bloqueios” ou promover o aprendizado contínuo.
  • Ferramentas Sem Propósito: Embora o time utilize as ferramentas ágeis (como Jira ou Trello) não há colaboração ou inspeção/adaptação por trás.
  • Métricas de Vaidade: O desempenho da equipe é avaliado pelo número de story points e não pelo valor entregue ao cliente ou pelo impacto no negócio.
  • Equipes Não Empoderadas: As decisões sobre o trabalho, processos ou ferramentas são tomadas pela liderança e o time não tem segurança emocional para levantar preocupações ou admitir erros.
  • Trabalho em Silos: Não há colaboração multifuncional no projeto, os departamentos (como negócios, operações, marketing) trabalham separadamente.
  • Falta de Feedback: As partes interessadas não inspecionam e nem testam o produto, atuam de maneira superficial nas demos e retrospectivas.
  • Resistência à Mudança Cultural: A mentalidade tradicional de comando e controle permanece intacta, as equipes não têm autonomia.

Os frameworks (abordagens, em português) ágeis foram desenvolvidos a partir de quatro valores: colaboração constante com o cliente, interação entre as pessoas, priorização das entregas ao invés de documentação e de resposta rápida às mudanças ao invés de planejamento.

O Scrum, Kanban e Lean Product Development trabalham com os princípios de entregas incrementais, alteração de rota e aprimoramento do produto e do método de trabalho por meio de ciclos de feedback. Enquanto o Extreme Programming (XP) se concentra em práticas de desenvolvimento de software de alta qualidade.

  • Scrum: Focado em papéis, eventos e artefatos. Utiliza sprints (ciclos de trabalho) para entregar incrementos de produto. É caracterizado por reuniões diárias, reuniões semanais com cliente, revisões de sprint (com cliente) e retrospectivas (ciclo de feedback do time).
  • Kanban: É considerado uma estratégia para otimizar o fluxo de valor (para o cliente) por meio de um sistema visual de gestão de tarefas. Os membros da equipe retiram o trabalho de uma fila ou pool de itens de trabalho. Ele não possui sprints fixos e permite a entrega contínua.
  • Lean Software Development: Inspirado nos princípios do Lean Manufacturing, ele busca entregar valor e reduzir desperdícios. Ele utiliza ferramentas de gestão visual e trabalha com o conceito de valor para o cliente, como o Kanban, além de incorporar os princípios de aprendizado e melhoria contínua.
  • Extreme Programming (XP): Enfatiza práticas de desenvolvimento de software como programação em par, testes frequentes e integração contínua. O foco é melhorar a qualidade do software e a capacidade de resposta às mudanças.
  • Outras: FDD (Feature-driven development), DSDM (Dynamic system development method), Crystal, ScrumBan, Scrum@Scale e BAM (Beyond agile model).

Implementar a mecânica do “como” utilizando os frameworks ágeis sem adotar a filosofia do “porquê”, presentes nos valores e princípios, é o palco ideal para o “teatro ágil”.

Para que as abordagens sejam verdadeiramente eficazes, é fundamental interconectar pessoas, processos e ferramentas, e não os tratar como de componentes individuais.

Todo Projeto deve ser Ágil puro?

Não! A escolha entre um modelo preditivo (tradicional, em cascata) e um modelo ágil vai depender das características do projeto e do ambiente.

Projetos que exigem planejamento detalhado, controle rigoroso das especificações, custos e cronograma ou que possuem exigências contratuais, muitas vezes não se adequam ao modelo Ágil Puro.

Construção de grandes infraestruturas, como pontes ou rodovias, são exemplos clássicos de projetos que seguem um modelo preditivo. Tais empreendimentos requerem controle rígido do cronograma e das especificações técnicas. Falhas podem acarretar custos elevados.

Melhorias nas linhas de montagem de uma fábrica passam pela compra de equipamentos caros com longos prazos de entrega e sequenciamento de instalações (a máquina A deve ser instalada antes da máquina B). O não cumprimento de prazos pode impedir o lançamento de um novo produto.

Implementação de certificações, como a certificação de qualidade ISO, ou preparação para uma auditoria requerem rastreabilidade da documentação e cumprimento do prazo final. Também um caso em que é difícil se desvincular por completo do “triângulo de ferro”.

Porém, é possível manter a estrutura de governança e o controle financeiro exigidos pela alta gestão e incorporar a velocidade e a flexibilidade necessárias no nível de execução. Essa combinação de práticas padrão e ágil formam o modelo híbrido.

Tailoring: a abordagem híbrida ideal para seu projeto

Tailoring é a adaptação da abordagem, da governança e dos processos do gerenciamento de projetos para torná-los mais adequados a determinado ambiente e projeto. A Sétima Edição do Guia PMBOK reconhece que a gestão de projetos moderna deve refletir toda a gama de abordagens (preditiva, adaptativa, híbrida etc.).

Não existem “melhores práticas”, cada prática faz sentido em algumas situações, mas não faz em outras. Ao conhecer as metodologias de gestão de projetos, você combina abordagem, processos e artefatos e define a metodologia que melhor atenda às necessidades.

Aplicação Prática de um Modelo Híbrido

Usando o exemplo a construção de linha de montagem automatizada para fabricação de veículos elétricos (EVs) em uma fábrica existente.

A alta gestão da fábrica exige controle rigoroso sobre os Custos e o Prazo de Inauguração. Este nível opera com a mentalidade preditiva, necessária a gestão do triângulo de ferro (escopo, custo e tempo).

No escopo do projeto são definidas a localização da linha, a capacidade produtiva, a lista principal de equipamentos-chave (robôs, prensas), entre outros detalhes. No cronograma são inclusos os prazos de conclusão da Obra Civil, recebimento dos equipamentos-chave e início da produção. Também são monitorados o orçamento de capital (CAPEX) e os riscos do projeto.

Porém, a execução do projeto lida com várias incertezas técnicas e de integração dos componentes eletrônicos, situação adequada para a abordagem ágil. Então, a equipe do projeto decide implementar a metodologia Scrum.

Portanto, é gerado um backlog do produto (1), com User Stories para as interfaces do Sistema de Controle Central (MES) para cada robô e sensor da linha. A sprint é planejada e são definidas as metas da sprint (2). São implementadas as reuniões diárias (“daily”) (3). E, ao final de cada sprint, um lote de componentes é rodado na linha para feedback imediato (4).

 

Como podemos ver, a combinação adequada de ferramentas e abordagens é o ideal para que as metas do projeto sejam atingidas, evitando o excesso de burocracia em projetos simples e garantindo o controle necessário em projetos complexos. 

O Advanced MBA Gestão Estratégica de Projetos prepara o líder híbrido  

O Advanced MBA Gestao Estratégia de Projetos da FIA Business School forma os gestores de projetos híbridos que o mercado tanto busca. O curso instrumentaliza os alunos para selecionarem a abordagem mais eficiente (tailoring) para cada etapa do projeto, além de capacitá-lo para gerenciar projetos e portfólios com foco implacável na entrega de valor mensurável para a organização, otimizando recursos e processos. O curso mantém os alunos na vanguarda do conhecimento.

Com 500 horas distribuídas em 24 meses, o curso oferece a modalidade EaD Ao Vivo ou presencial em São Paulo. Os alunos concluintes também obtêm 45 PDUs (Professional Development Units) para a manutenção das certificações do Project Management Institute (PMI).

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